sábado, 19 de junho de 2010

MTB Canastra 2006 - relato


Integrantes: Caio e Guto Total Percorrido: 235 km em 4 dias
Saída: 02/11/2006 (São Paulo / Piracicaba / Delfinópolis)
Volta: 06/11/2006 (Delfinópolis / Piracicaba / São Paulo)
As primeiras movimentações a respeito desta viagem de mountain bike remontam há uns dois anos atrás, onde já martelava na cabeça a idéia de organizar uma trilha pela Serra da Canastra. Eu já conhecia a região desde 1993, onde realizei vários acampamentos nas imediações da cidade de Delfinópolis, mais precisamente no Complexo do Claro, junto com antigos amigos de Barretos. Além disso, algum tempo depois conheci a região da Fazenda da Água Quente junto com meu irmão Guto. Mais recentemente fiz algumas trilhas cortando o Parque Nacional da Serra da Canastra com minha esposa Paulinha, em alguns de seus trabalhos de campo em botânica.
Comecei a pesquisar na Internet alternativas de roteiros e tive acesso a uma edição da revista Go Outside, onde, por coincidência, tinha um roteiro de uma trilha de mountain bike de 3 dias que atravessava toda a Serra da Canastra. Esta história me deixou muito animado, pois era este tipo de trilha que eu estava querendo fazer. Comecei a levantar outros dados a respeito da região a ser percorrida e finalizei um esboço para a travessia. O próximo passo seria ver quem poderia participar da viagem e a melhor época.
Primeiramente chamei alguns companheiros de outras aventuras, remanescentes da ápoca da Faculdade de Geologia de Rio Claro, entre eles Rabicó, Léo e Kbça. Depois chamei meu irmão Guto e depois outros amigos de Piracicaba, como o Saulo e o Rangel. Bem, como é difícil agradar gregos e troianos e também conciliar o trabalho de um com as folgas de outros, no final das contas a equipe ficou resumida a mim e ao Guto.
Já sabíamos que este tipo de trilha requer um bom preparo físico. Eu estava bem preparado, realizando algumas caminhadas pela Serra da Mantiqueira (travessias da Serra Fina e Marins-Itaguaré), praticando Capoeira Angola em Piracicaba e também trilhas de mountain bike quando a minha vida de embarques na plataforma deixava. O Guto é um esportista nato, acostumado a vários tipos de esportes como provas de resistência de natação em mar aberto, treinamento para maratona, além de praticar capoeira, pedalar e sempre estar treinando alguma coisa de vale tudo e jiu-jitsu. Mesmo assim, já prevendo os obstáculos que teríamos pela frente, intensificamos nossos treinamentos pelo menos 2 meses antes do início da viagem.
Basicamente nossa trilha estava planejada para se realizar em três dias. No primeiro dia sairíamos da cidade de Delfinópolis e bordejaríamos a Represa Peixoto e subiríamos em direção a Serra das Sete Voltas, entraríamos no Parque Nacional da Serra da Canastra pela portaria de Sacramento e atravessaríamos o mesmo até a portaria de São João da Serra da Canastra, onde dormiríamos na Pousada da Serra. O segundo dia estava marcado pela chegada na Garagem de Pedra, onde desceríamos toda a borda da Serra da Canastra e sairíamos das imediações do parque em direção à Serra Branca. Atravessaríamos a Serra Branca e desceríamos até o Vale da Babilônia e dormiríamos no Sítio da Vanda. No terceiro dia passaríamos pela subida do Caminho do Céu e pelo Tobogã em direção ao Vale da Bateinha e depois, já na direção do Complexo do Claro, voltaríamos para Delfinópolis. O percurso total seria de aproximadamente 200Km. Mas tivemos uns contratempos e tivemos que dormir a primeira noite na Serra das Sete Voltas, aumentando para 4 dias a duração da travessia.


Dia 1: Delfinópolis / Vilarejo Sete Voltas (55Km em 8h)
Saímos de Piracicaba (SP) cerca de 2hs da manhã do dia 02/11/2006 em direção a cidade de Delfinópolis. Durante a viagem pegamos muita chuva na estrada, o que causou algum atraso nos nossos planos de iniciar a trilha bem cedo. Passamos pela Represa Peixoto já de manhã e aguardamos a passagem pela balsa, enquanto fazíamos nossas primeiras considerações sobre a viagem. Chegando em Delfinópolis, deixamos o carro em um estacionamento privativo e após organizarmos todos os equipamentos iniciamos o pedal às 10:30hs da manhã. Estava um tempo chuvoso, o que nos fez pensar nas dificuldades que iríamos encontrar pela frente.
Saímos de Delfinópolis e seguimos na direção da cidade de Sacramento, acompanhando a serra à nossa direita por uma estrada de terra que às vezes alternava entre subidas e descidas suaves. Após cerca de 19km, nos deparamos com uma uma bifurcação na estrada, onde pegamos a opção da esquerda (para a direita a estrada segue para a parte de cima da serra). Mais alguns kilómetros avistamos as águas da Represa Peixoto, onde seguimos bordejando toda sua extensão, passando por ranchos e sítios até o início da subida da Serra das Sete Voltas aos 34km. Após cerca de 10km passamos pelo Vilarejo Bela Mansão e iniciamos o trecho mais íngreme da serra. Aos 53Km, pegamos a esquerda em uma encruzilhada e finalmente aos 55km, às 18:30hs, chegamos ao Vilarejo Sete Voltas.
Não estava nos nossos planos dormir em Sete Voltas, porque o destino final deste primeiro dia era a Pousada da Serra, na segunda portaria do parque. Mas, como chegamos exaustos no vilarejo e já estava anoitecendo achamos mais prudente encontrar algum lugar para ficar ali mesmo. O problema era que não existia nenhum lugar para pernoitar, nenhuma pousada, nenhum camping, nada. Por sorte, quando estávamos jantando no Bar do Dorisvaldo, ele percebeu a nossa dificuldade e acabou por oferecer um barracão, que ficava ao lado de seu bar, para podermos passar a noite. O lugar era um depósito de ferramentas e sacaria, onde existiam duas camas de madeira improvisadas com finos colchonetes e duas cobertas. As janelas ficavam totalmente escancaradas durante a noite. Bem, como estávamos muito cansados, acabamos por cair num sono mais do que profundo. Só fomos entender o real estado do lugar na manhã seguinte.

Dia 2: Vilarejo Sete Voltas / Vilarejo São João da Serra da Canastra (60Km em 6,5h)
A manhã seguinte estava um pouco fria, resquícios ainda da frente fria da véspera. Após sermos acordados pelos galos da vizinhança, começamos a nos preparar para o segundo dia da travessia. Saímos as 9hs do Vilarejo Sete Voltas em direção a portaria de Sacramento, com nossos corpos bastante doloridos, dificultando o início da pedalada.
O trecho inicial era uma subida de cerca de 9km, em uma área de reflorestamento de eucaliptos da empresa Votorantim. O terreno estava bastante escorregadio, causando alguns tombos durante este trecho. No final deste trecho de subida pegamos a direita em uma bifurcação, seguindo por uma estrada bem mais plana, atravessando todo o reflorestamento. Aos 77km passamos pelo Hotel Fazenda Portal da Canastra e logo avistamos a portaria do parque.
A vegetação do parque estava deslumbrante e particularmente muito florida nesta época do ano. O terreno dentro do parque é bastante plano e a média de velocidade foi muito alta, se compararmos com os outros dias. Apesar de termos pegado um trecho com chuva, com rajadas de vento, chegamos rápido na outra portaria do parque, a de São João Batista da Serra da Canastra.
Saímos do parque e seguimos por uma descida em direção ao Vilarejo de São João da Serra da Canastra, onde chegamos aos 115km às 15:30hs. Como chegamos cedo na pousada, aproveitamos para descansar ao máximo e poupar as pernas para os dois últimos dias de pedalada. Jantamos no Bar do Sr. Vicente e dormimos na Pousada da Serra. A pousada é bem simples mas muito aconchegante, localizada no meio da Serra da Canastra. O proprietário, mais conhecido por Ricardo "animal", é uma pessoa muito tranqüila, que conhece muito bem as trilhas da região.
Dia 3: São João da Serra da Canastra / Sítio da Vanda (60Km em 8,5h)
Saímos da Pousada da Serra às 09:30hs e voltamos para o parque pela mesma portaria que passamos no dia anterior. Após adentrar no parque, seguimos por cerca de 8Km em direção à Garagem de Pedra. Pegamos uma trilha, ao lado da garagem, que é interditada para carros e motos e era um antigo acesso ao parque. Passando por uma porteira iniciamos a descida para o Vão dos Cândidos.
Esta descida é uma grande ladeira, praticamente intransitável em alguns pontos, com muitas rochas soltas de diversos tamanhos e formas, que dificulta muito a passagem com as bicicletas. No final da descida, passamos por uma casa ao lado esquerdo da estrada e fomos em direção a drenagem de um rio. Ultrapassamos seu leito com as bikes nas costas e, já fora das imediações do parque, seguimos por sua mata ciliar em uma leve subida até uma encruzilhada. O caminho correto é para a esquerda, passando logo depois por um mata-burro em um trecho bem plano.
Obs: Este trecho antes do "mata-burro" nos causou um grande desgaste físico, porque não sabíamos direito qual o caminho a seguir. Acabamos seguindo pela estrada à direita da encruzilhada, em uma subida cada vez mais íngreme. Resumindo, tínhamos optado pelo caminho errado e tivemos que voltar novamente até a encruzilhada.
Passamos por dentro da Fazenda do Sr. Neguinho e iniciamos um trecho de subida que nos levaria para o topo da Serra Branca. Em uma bifurcação antes do Morro do Carvão, seguimos para a direita, em uma breve descida e logo começamos a subir novamente até o topo da serra. O visual de cima da Serra Branca é muito bonito, onde avistamos toda a Serra da Canastra às nossas costas e também a Cachoeira Casca D´anta, bem no limite do parque.
Deixamos o topo para trás e iniciamos um trecho de descida cada vez mais íngreme, com trechos de ribanceiras perigosas, até o Vale da Babilônia. Chegamos ao final da descida por volta das 18hs e seguimos para o Sítio da Vanda, onde iríamos dormir.
O Sitio da Vanda é um lugar especial, principalmente para as pessoas que estão na mesma situação da gente, de passagem pela serra e que precisava de um porto seguro para recarregar as energias. Ela sempre tem muitos hóspedes e é um ótimo lugar para conversar, trocar experiências com outros aventureiros e ouvir muitas histórias interessantes. Vale ressaltar a ótima comida mineira que ela prepara, sempre com muita fartura.
Dia 4: – Sítio da Vanda / Delfinópolis (60Km em 10h)
Saímos do Sítio da Vanda às 8hs, passamos pelo Sítio do Sr. Zezito e viramos à direita em direção à Casa da Oração. Um tempo depois pegamos à direita em uma bifurcação e iniciamos a interminável e íngreme subida para o Caminho do Céu. Depois de muitos kilómetros de subida entendemos o verdadeiro sentido deste nome quando chegamos no seu topo. Após pegarmos a esquerda em uma bifurcação, começamos a visualizar o caminho de cerca de 10km, conhecido como Tobogã, que nos levaria para o Vale da Bateinha.
O Tobogã é um dos trechos mais inacreditáveis da trilha, onde você pedala na crista da serra, entre dois vales, em uma estrada muito boa e rápida, onde a velocidade, a adrenalina e o perigo são seus pontos fortes, principalmente nos últimos kilómetros. Lá embaixo, no Vale da Bateinha, demos uma parada no primeiro sítio, de propriedade de D. Marília, para abastecermos com água e recuperarmos da grande descida.
Seguimos pelo vale, por entre sítios e fazendas e passamos por três pontes e viramos à direita. Na próxima bifurcação pegamos outra vez à direita em direção à Cachoeira do Paraíso e seguimos em direção até a Casa Branca.
Obs: A estrada continua após a Casa Branca, em uma subida muito íngreme, em direção ao alto da serra – não subir, pois perdemos um bom tempo neste trecho. O correto é contornar a Casa Branca onde iniciamos uma descida até a chamada Casa de Pedra, em uma estrada muito íngreme e ruim, com muitas rochas soltas e pontiagudas. Após esta descida chegamos ao Sítio Paraíso e depois a direita em uma bifurcação até o Complexo do Claro, já no município de Delfinópolis.
Este local é formado por inúmeras cachoeiras com poções de águas cristalinas, trilhas e ótimos lugares para acampar. Ficamos por cerca de duas horas na Cachoeira da Gruta, nadando, descansando, tomando sol nas pedras, conversando e agradecendo pela proteção por toda a travessia. Saímos do Claro e chegamos na estrada principal, onde pegamos à direita em direção à cidade de Delfinópolis, que dista cerca de 6km. Chegamos em Delfinópolis às 18hs. Dormimos em uma pousada perto da praça central e saímos cedo no outro dia em direção a Piracicaba.
Obs: Estávamos iniciando nosso jantar, famintos, com aquele filé a cavalo caprichado dando água na boca. Dei minha primeira mordida e uma dor terrível me fez largar os talheres na hora. Minha cabeça latejada e saia água dos olhos. O Guto não acreditava no que estava acontecendo, muito menos eu. Meu dente, algo tinha acontecido com ele. Demoramos muito para achar um dentista, mas depois de uma primeira análise foi constatado que eu tinha rompido minha obturação e provavelmente teria que fazer um canal no dente. Bem, o dentista fez um curativo e deixei pra tratar quando chegasse em casa. Uma dica: É muito importante fazer um check-up em um dentista antes de iniciar qualquer viagem.
O percurso total da travessia foi de aproximadamente 235Km em 4 dias de pedalada, em uma média de 58Km por dia. Esta viagem vai ficar marcada pra sempre na nossa memória, não somente pelas paisagens belíssimas e pela camaradagem, mas também pela superação dos nossos próprios limites. Temos a certeza que brevemente voltaríamos para lá.
Equipamentos / Mantimentos Utilizados:
- bike em ótimo estado;
- condicionamento físico em ótimo estado;
- anorake (capa de chuva) / capacete / chinelo;
- mochila de 30 litros e capa de chuva;
- 1 calça tec-tel (que vira bermuda);
- 1 blusa de frio leve c/ capuz;
- 1 bermuda pedal / tênis;
- 3 camisetas / 4 meias / 4 cuecas;
- óculos escuros / protetor solar;
- 1 lanterna / pilhas / câmera fotográfica;
- mapa / croqui da região / GPS;
- canivete / caderneta campo;
- kit reparo (chaves, remendos, cola, câmara, bomba, cabos de aço, etc);
- garrafas d’agua (duas p/ cada);
- 5 pacotes de bananinha desidratada;
- 4 chocolates em barra grande;
- 20 barras energéticas / 20 barras de proteínas;
- primeiros socorros básicos;
Gastos Gerais (duas pessoas):
- Pedágios de São Paulo até Delfinópolis (ida/volta) – R$ 90,00
- Gasolina (ida/volta) – R$ 230,00
- Compras – 150,00
- Hospedagem Serra das Sete Voltas + rango – R$ 25,00
- Pousada da Serra (banho e café da manhã) – R$ 90,00
- Jantar no Sr. Vicente – R$ 38,00
- Entrada no Parque – Portaria Sacramento e São J. B. da Serra da Canastra – R$ 12,00
- Pousada da Vanda (jantar, banho e café da manha) – R$ 67,00
- Entrada no Complexo do Claro/Delfinópolis – R$ 12,00
- Jantar em Delfinópolis – R$ 23,00
- Pousada em Delfinópolis – R$ 60,00
Total: +/- R$ 800,00
Endereços / Contatos:
* Contato da Pousada da Serra (Ricardo “animal”) – pousada (34) 3662 4516; celular (34) 9119 0885;
* Contato da Pousada da Vanda – (35) 9961 4399;
* Contato do ciclista Caio (que encontramos no Sítio da Vanda) caioassad@passosnet.com.br (35) 9951 0047 / (35) 3521 9045.

MTB Canastra 2006 - imagens


  Louva-a-Deus, perto da Serra Branca

Cigarra na Árvore, Represa Peixoto
Trecho do Tobogã

Alto da Serra Branca com a Serra da Canastra ao fundo

Trajeto do Caminho do Céu

Paisagem do extremo leste da Serra da Canastra

Paisagem da Serra Branca ao fundo

Guto observando o Vale da Babilônia

Descansando na Pousada da Serra

Cachoeira da Gruta em Delfinópolis

Vista da descida final para o Vale da Babilônia

Bicho-Pau, descida para o Vão dos Cândidos

Caio no início da descida para o Vão dos Cândidos
Paisagem dentro do P. N. da Serra da Canastra

Perto da Garagem de Pedra

Trecho de trilha no Tobogã

Vista para o Vão dos Cândidos e a Serra Branca ao fundo

Guto em mortal na Pousada da Serra

Garagem de Pedra, P. N. da Serra da Canastra

Flores dentro do P. N. Serra da Canastra

Tucano observado em araucária na Pousada da Serra

Guto e Caio na Cachoeira da Gruta

                                  Casa de Pedra

Início da trilha interditada, Casa de Pedra

Portaria de Sacramento, P. N. da Serra da Canastra

Início da subida para Serra Branca

Início da descida para o Vão dos Cândidos

Trecho da descida para o Vão dos Cândidos

Saindo dos limites do parque

Gavião observado dentro do parque

MTB Canastra 2006 - vídeos

Primeiro dia - filme

Segundo dia - filme

Segundo dia - fotos

Terceiro dia - filme


Quarto dia - filme