quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Deserto de Atacama - relato


Integrantes: Caio e Paulinha
Saída: 05/11/2010
Volta: 13/11/2010

Dia 1 – Saída Brasil / Chegada Chile / Aclimatação inicial

Chegamos por volta das 18 horas em Calama, onde fica o aeroporto mais próximo de San Pedro e a percepção inicial que tivemos, assim que entramos no saguão, foi de uma leve falta de ar e tonteira. Acabamos perdendo o horário do transporte que tínhamos reservado, assim acabamos dividindo um táxi com uma solitária viajante da Holanda, que estava indo também para San Pedro.

Já ao longe avistamos a cidade que se encontra entre as cordilheiras dos Andes à leste e a de Domeyko à oeste. Apesar de estar localizada na depressão do Salar de Atacama, a cerca de 2400m de altitude, a impressão que se tem é que chegamos num oásis no meio do deserto, devido à grande quantidade de vegetação no seu entorno.

San Pedro de Atacama é um pequeno povoado localizado na região de Antofagasta, extremo leste do Chile, a cerca de 1600 Km a norte da capital, Santiago. Toda esta região está localizada dentro do mais alto e árido deserto do mundo. Segundo alguns relatos, existem regiões do deserto que não vêem água há mais de 400 anos.

O clima de San Pedro na parte da manhã era bastante amigável, com uma temperatura amena e um vento refrescante, apesar do céu praticamente sem nuvens. Entre as 11 e as 16 horas chegava a virar um verdadeiro inferno, com um calor absurdo, entre 30 e 35 graus e uma umidade muito baixa, ao redor dos 4%. Depois das 8 da noite, a temperatura começa a esfriar e chega fácil aos 20 graus no meio da noite. De madrugada a temperatura pode cair bastante, chegando a ficar negativa.

Chegamos e fomos direto para a nossa pousada, o Lodge Altitude, onde fomos recebidos pelo proprietário Álvaro. Assim que nos instalamos, fomos convidados pelo nosso anfitrião a uma breve visita de reconhecimento. A cidade possui uma infra-estrutura bem organizada, com casas bastante rústicas e peculiares, feitas de adobe e muitos bares e restaurantes bem charmosos. Existem muitas pousadas e empresas que organizam os mais variados tipos de passeios por toda a região. Pelas ruas facilmente se encontra com estrangeiros do mundo todo, misturados aos chilenos locais e os vindo da capital.

Dia 2 – Valle de La Muerte / Valle de La Luna

            Acordamos por volta das 8 da manhã e tomamos nosso primeiro café da manhã no Atacama. A pousada que ficamos era bastante tranqüila, tinha uma casa principal, onde fica a recepção e a sala de café da manhã e alguns chalés bastante rústicos, além de uma piscina climatizada. Interessante é que toda a energia elétrica era proveniente de painéis solares. O ponto positivo da pousada é a vista para o Vulcão Licancabur. Era só a abrir a janela de manhã para avistar esse espetáculo. No entanto, ela fica um pouco distante do centro da cidade (cerca de 10 minutos a pé), o que pode ser um inconveniente para quem está sem carro, além de ser um pouco cara para a infra-estrutura que oferece.
           
Saímos então para o centro da cidade procurar pelas agências turísticas e programar nossos passeios. O dia estava especialmente bonito, com o céu numa coloração azul bastante forte e fazia muito calor. Demos uma reconhecida geral, almoçamos e fomos até a agência escolhida para marcar nossos passeios para os próximos três dias, entre eles o Valle de La Muerte, Valle de La Luna, as Lagunas Altiplânicas, Salar de Atacama e Geyser´s del Tatio, deixando os outros dias ainda por definir.
Um dos aspectos que mais nos chamou a atenção quando andávamos pelas ruas de San Pedro era a atitude em relação ao comércio local. Os nativos que vendem o artesanato não ficam em cima dos turistas naquela ânsia de vender algo a qualquer preço, a cultura do “compra-me, compra-me” que presenciamos em cidades bolivianas e peruanas como La Paz e Cusco. Tudo ali era bastante calmo e organizado.

            Nosso primeiro passeio foi a visita a Cordilheira de La Sal e para as regiões conhecidas como Valle de La Muerte e Valle de La Luna, que fica a alguns kilómetros de San Pedro. Toda esta região era, no passado, um imenso lago que com o passar do tempo foi secando e depois erguido, dobrado e inclinado pelas mesmas forças naturais que formaram a Cordilheira dos Andes, há cerca de 23 milhões de anos.
           
Fizemos uma parada em um mirante natural, a beira da rodovia que liga San Pedro à cidade de Calama, com uma vista deslumbrante de todo este complexo de rochas da Cordilheira de La Sal, antes de seguir para uma caminhada por entre sucessivos afloramentos rochosos através de um trecho do Valle de La Muerte. Durante este trajeto passamos por dunas enormes, sempre em meio a uma paisagem totalmente inóspita e árida, cujos morros formam impressionantes formas, esculpidas continuamente pela ação do vento e da chuva, sendo muito difícil encontrar qualquer vestígio de vegetação.
           
A outra parte do passeio foi ao Valle de La Luna, localizado à 19 km de San Pedro e a 2550 m de altitude, nas bordas do Salar de Atacama. É uma região protegida por órgãos locais, onde visitamos diversas atrações como a escultura rochosa chamada de Três Marias, um testemunho dos intensos processos de erosão. Foi interessante notar que todo o terreno por onde andávamos era composto por placas de sal, deslocadas por movimentos do terreno ou também pelo próprio ressecamento natural da rocha.

A última parada do dia foi aos pés de uma grande duna, conhecida por Duna Mayor. Durante a subida por um de seus flancos, ficamos maravilhados pela paisagem de uma feição que parecia uma grande mesa, que se mostrava cada vez mais ampla à medida que subíamos. No topo da duna, seguimos por uma estreita trilha na crista até o momento em que paramos para observar o pôr do sol. Este momento foi único, pois a cada minuto transcorrido, as rochas iam mudando de cor, passando de tons acinzentados e avermelhados, que culminaram em cores azuladas e rosadas no final do dia. O fundo desta pintura foi marcado pelas montanhas, em especial o Vulcão Licancabur, com um espetáculo à parte, imperdível.
           
Dia 3 – Salar de Atacama / Lagunas Altiplânicas


Nossa primeira parada neste dia foi no Salar de Atacama, na Laguna Chaxa (2300 m) localizada dentro da Reserva Nacional Los Flamencos, a cerca de 62 kilómetros de San Pedro.
           
Após assistirmos um vídeo de apresentação sobre a reserva, seguimos por uma estrada que nos levou a um setor de observação de todo o sistema de lagunas. Elas são bastante rasas e apresentam em suas margens crostas de sal geradas pela constante evaporação destas águas. Nestes sistemas lacustres ocorrem abundantes formas de algas unicelulares e micro-invertebrados, que são fontes de alimentos para três espécies de flamingos muito comuns na região.
           
Após esta visita percorremos cerca de 40 km, subindo até 4200 metros de altitude, para visitar as Lagunas Altiplânicas de Miscanti e Miñiques, que também faz parte da Reserva Nacional Los Flamencos. A gigantesca Laguna de Miscanti de coloração azul é bordejada por dois imensos vulcões, em uma paisagem belíssima. O que mais nos chamou a atenção era o contraste das cores, o azul das águas e do céu, a coloração esbranquiçada do sal das bordas, o dourado das moitas da Palha Brava e o tom acinzentado das rochas vulcânicas.

Alguns milhões de anos atrás, as águas provenientes do degelo dos vulcões Miscanti (5622m) e Miñiques (5910m) escorriam livremente pelo altiplano até o Salar de Atacama. A erupção do Vulcão Miñiques, ocorrida há cerca de um milhão de anos originou o aprisionamento delas, formando as lagunas encontradas nos dias de hoje. Curiosamente a Laguna de Miñiques se encontra 5 metros abaixo do nível da Laguna Miscanti, sendo que a ligação entre as duas se dá por uma conexão subterrânea.
           
Na volta, paramos para almoçar em um restaurante na Comunidade Indígena de Socaire, a mesma que administra a reserva das lagunas altiplânicas. Já perto de San Pedro, aproveitamos para dar uma breve parada no Povoado de Toconau.

Dia 4 – Geyser´s del Tatio / Vilarejo de Machuca

            Acordamos de madrugada, por volta das 4 da manhã, e deixamos San Pedro para visitar a região conhecida como Geyser´s del Tatio. A temperatura estava por volta dos 9 graus, mas, durante a viagem, quando começamos a subir o altiplano, ela caiu bastante.
           
Após cerca de 100 km e o dia praticamente nascendo, estávamos a 4300 metros do nível do mar. Marcava 10 graus negativos, fato que nos abrigou a colocar todas as nossas blusas, luvas e gorros. A região é de outro mundo, sendo considerado o campo geotérmico de maior altitude, onde, em uma área de três km2, se encontra cerca de 40 geyser’s, 60 termas e mais ou menos 70 fumarolas.
           
O interessante é que o melhor horário para observar os fenômenos geotérmicos é na parte da manhã, logo ao nascer do sol. A possível explicação é que, ao amanhecer, uma grande parte da água existente na área, que estava congelada, começa a preencher as fissuras, e entrando em contato com regiões muito quentes, se transformam em vapores de água, que saem na forma de violentos fluxos que podem atingir temperaturas de até 85 graus.

Nestas rochas existe uma grande diversidade de minerais cristalizados, cujas tonalidades passam do esbranquiçado ao amarelo-alaranjado. Curiosamente em uma drenagem observamos a presença de gelo e sais cristalizados no mesmo local, enquanto saia muita fumaça de suas águas, mostrando a complexidade natural deste sistema.
           
Alguns fluxos hidrotermais são constantes, ao passo que outros são cíclicos, alguns ativados, às vezes, em intervalos de 1 minuto. No local existe uma fumarola em especial, que fica ejetando incessantemente gases sulfurosos a mais de 10 metros de altura, sob enorme pressão. A maior parte das pessoas que visita o local, não deixa de entrar na grande piscina térmica natural de águas sulfurosas que existe por lá.

Outra curiosidade é que o governo chileno tentou utilizar, durante a década de 60, energia proveniente destes campos termais, mas o projeto foi abandonado há bastante tempo, devido à baixa rentabilidade do empreendimento. Os equipamentos utilizados ainda se encontram por lá, entregues a ferrugem.

Uma recomendação importante e que tem que ser seguida é a de não ultrapassar os limites estabelecidos para a observação de todas as atrações, pois o risco de existirem estruturas bastante frágeis no terreno é real, podendo causar queimaduras graves.

            Após o nosso café da manhã, onde as caixinhas de leite foram esquentadas com o calor geotérmico local, partimos para o Vilarejo de Machuca. Pelo caminho reconhecemos ao longo do horizonte os vulcões Sairecabur e Putana, este último um dos vulcões ativos da região, que exibia sua atividade na forma de fumarolas esbranquiçadas que saiam de seu cume.

O Vilarejo de Machuca fica a cerca de 4000 metros de altitude e apresenta típicas casinhas simpáticas e bastante conservadas, construídas com muros feitos de adobe e tetos de palha amarela. No alto de um morro tem a igrejinha local e uma vista maravilhosa para todo o vale. Recomenda-se experimentar as deliciosas empanadas e espetinhos de lhama, feitos na hora pelos moradores.

Os moradores estão aos poucos voltando às suas atividades agrícolas de criação de animais e produção de queijo, assim como faziam antes da imigração de suas famílias para outros lugares. Este retorno às tradições é graças ao turismo cada vez mais intenso na região e também à diversas ações sociais de inclusão feitas pelo governo local.

Dia 5 – Trilha de MTB pela Cordilheira do Sal

Tiramos este dia para conhecer os arredores de San Pedro. Após o café da manhã, fomos para o centro da cidade, alugamos duas mountain bikes e seguimos em direção a Pukara de Quitor.

Existem diversas trilhas que podem ser feitas pela região, dependendo do tempo e do seu condicionamento físico. Se você quiser fazer uma trilha de cerca de 2 horas, você pode optar para ir para o Valle de La Muerte ou para Pukara de Quitor. Pode também seguir para o Valle de La Luna ou também para a Aldeia de Tulor em cerca de 5 horas. Para o Vale do Catarpe são 3 horas e para a Laguna Cejar, cerca de 7 horas. O importante é não se esquecer de levar boné ou chapéu, protetor solar e muita água, além de evitar os horários entre as 11 e 14hs da tarde.

As ruínas de Pukara de Quitor estão localizadas em cima de um morro no Valle de La Muerte, nas margens do Rio San Pedro. Existem cerca de 200 construções que datam do século XII que foram feitas com rochas encaixadas umas as outras e cimentadas com adobe. Sua localização possui um caráter defensivo que foi usado desde os tempos incaicos. Em 1540, com a chegada dos espanhóis, a localidade foi tomada e todos os nativos decapitados. No início da década de 1980 o local foi restaurado e se tornou Monumento Nacional do Chile.

Não chegamos a visitar estas ruínas, apenas passamos em frente, cruzamos a drenagem do rio e seguimos em direção as Ruínas de Catarpe. Com o sol do deserto fortíssimo, logo demos uma parada para uma refrescada debaixo de uma grande árvore, que mais parecia uma miragem naquele calor insuportável. Após alguns minutos voltamos a pedalar, subindo a drenagem do rio por cerca de 1 hora e meia. Entramos a esquerda em uma bifurcação e o terreno foi ficando cada vez mais íngreme.

Logo a paisagem da trilha se tornou lunar, inóspita, entre morros dobrados e inclinados de coloração avermelhada, totalmente estéril. A subida seguia aparentemente por uma drenagem seca de algum rio do passado. Paramos após cerca de uma hora de pedalada em um mirante localizado numa ponte de pedra com vista para a cordilheira.

Descansamos, tomamos bastante água e iniciamos nossa descida, por um downhill bastante emocionante. Chegamos em San Pedro por volta das 4 da tarde, devolvemos as bikes e fomos almoçar, exaustos de calor. Voltamos para a pousada e ficamos à beira da piscina conversando e descansando até o pôr do sol, com vista para o Vulcão Licancabur.

Dia 6 – Salar de Pujsa / Monjes de La Pacana / Catedrais e Salar de Tara

Seguindo a nossa estratégia de aclimatação, acordamos cedo e fomos para um dos passeios mais bonitos das imediações, a uma altitude variando de 4000 e 5000 metros. Saímos em uma Van, com um grupo bastante reduzido, éramos eu e a Paulinha, o guia e motorista chileno, um rapaz brasileiro chamado Ricardo e três espanholas, Maria Neves, Naty e Evanina.

O percurso era em direção a fronteira com a Argentina, na região conhecida como Paso de Jama. Segundo diversos relatos, estas paisagens eram uma das mais bonitas das Américas. O trajeto inicialmente passa ao lado dos vulcões Licancabur e Juriques e depois continua subindo pelo altiplano. Nossa primeira parada foi às 9 horas da manhã, para o café da manhã na Laguna de Quepiaco, a cerca de 4300 m de altitude. Depois seguimos ainda pela estrada principal até uma estrada de terra, que nos levaria ao Salar de Pujsa (4500m).

Chegamos por volta das 11 horas neste local magnífico, cuja paisagem acinzentada proveniente das rochas vulcânicas, contrastava com o tom amarelado de alguns exemplares das palhas bravas. Do mirante que estávamos dava para observar, bem ao longe, uma imensa população de flamingos, cujos ruídos podiam ser bem audíveis, apesar do vento constante e forte que assolava o local.

Continuando pelas estradas de terra do deserto chegamos aos famosos Monjes de La Pacama, também conhecidos como Guardiões de Tara. São enormes blocos de rochas verticais, de diversos formatos, podendo atingir mais de 15 metros de altura e bastante erodidos pela ação do intemperismo. É um espetáculo à parte caminhar e observar estes imensos monólitos solitários na imensidão destas paisagens do deserto.

Deixando os guardiões para trás continuamos nossa jornada, agora em direção a um conjunto de rochas, que mais se parecem com muralhas de um castelo, conhecidas como Catedrais de Tara. As catedrais são um complexo de rochas vulcânicas, bastante escarpadas e com mais de 20 metros de altura, de composição bastante similar às últimas que tínhamos acabado de passar. Estas últimas, na verdade, estão em um estágio de erosão mais incipiente do que as rochas dos guardiões. Ou seja, no futuro a paisagem das catedrais irão se assemelhar bastante com os atuais Guardiões de Tara. Ao passo que os guardiões, com o passar do tempo, não passarão de fragmentos de rocha espalhados pelo chão do deserto.

A paisagem das catedrais é impressionante, pois ao fundo, se descortina o Salar de Tara, que é uma imensa laguna que pode variar de 3 a 25 km2 de área, dependendo da época do ano e da alimentação do rio que chega até ela.

Desfrutamos de uma deliciosa refeição, oferecida pelo nosso guia, em um abrigo às margens do Salar de Tara. Às 15 horas iniciamos a nossa volta, após um breve descanso e seguimos pelo mesmo caminho que tínhamos vindo. Porém, quando fomos subir por um atalho nas proximidades das catedrais, em uma subida não muito íngreme, nosso carro começou a patinar nos cascalhos do deserto e acabamos presos. Ficamos preocupados e cada um falava uma coisa, acelera, não acelera, pára de acelerar senão vai ficar mais preso, e por aí vai. Várias opiniões que deixaram nosso motorista com ar de interrogação de como sair daquela enrrascada. Saímos todos do carro para tentar empurrar, na tentativa de que ele saísse do atoleiro. Empurramos bastante, mas parecia que os pneus se enterravam cada vez mais ao solo. O carro patinava bastante, jogando muitos cascalhos em cima da gente. Eu particularmente cheguei a fazer tanta força, na tentativa de tirar o carro daquelas condições, que cheguei a quase passar mal. Essa realmente era a prova de aclimatação que procurávamos. Se conseguíssemos tirar o carro dali empurrando, estávamos aclimatados. Então, depois de muito custo, alguém teve a ótima idéia de esvaziar um pouco os pneus para que o carro tivesse mais atrito com o chão. No primeiro instante ninguém acreditou na idéia, nem o guia, e depois de mais algumas tentativas em vão, decidimos tentar. Preparamos novamente para fazer mais força, estávamos exaustos, e se não desse um resultado positivo desta vez teríamos que pensar em alternativas diferentes, como pedir ajuda a algum carro com guincho, ligar pra a agência e pedir um resgate ou até mesmo nos preparar pra passar a noite no meio do deserto e esperar o próximo dia. Mas, desta vez, as coisas funcionaram. Conseguimos fazer força o bastante para que o carro pegasse um impulso e o atrito funcionou, fazendo com que saíssemos da cascalheira. Entramos no carro, todos felizes pela conquista e seguimos por uma estrada lateral a cascalheira, saindo da região das Catedrais de Tara, aliviados.

Como tínhamos tido uma resposta positiva de nossa aclimatação durante todos estes dias, decidimos descansar mais um dia e depois tentar a subida até o cume do Vulcão Sairecabur (6050m).

Dia 7 – Descanso em San Pedro / Visita ao Museu

Como tiramos este dia para descansar, aproveitamos para visitar o Instituto de Investigações Arqueológicas y Museo Gustavo Le Paige, que faz parte da Universidade Católica Del Norte, em San Pedro.

Este museu foi fundado pelo padre belga Gustavo Le Paige em 1957 e possui uma imensa coleção de artefatos arqueológicos, que vão desde cerâmicas, fragmentos de tecido, múmias e tudo que compreende as descobertas na região de San Pedro, representando toda a cultura do povo atacamenho a mais de 11 mil anos atrás, desde a influência de povos tiahuanacos e incas e mais tardiamente os conquistadores espanhóis.

À noite fomos participar da reunião com o nosso guia na operadora (Cumbres 6000) que contratamos para subir o vulcão. As recomendações para a subida eram explícitas, não poderíamos comer carne vermelha e nem tomar nada de álcool. Estávamos mais preocupados com os detalhes da caminhada, como era a trilha, o nível de dificuldade, até onde chegaríamos de carro, quanto tempo até o cume, qual era a previsão do frio, entre outras coisas.

Depois da conversa com o guia, ficamos mais ansiosos do que já estávamos, pois a reunião não ajudou muita coisa. Na verdade só piorou, porque ele foi bastante sincero em relação às dificuldades da ascensão. Por outro lado, ficamos tranqüilos, pois ele disse que seguiria nosso ritmo e faríamos paradas para descanso.

Ficamos pensando sobre a nossa aclimatação, será que tinha dado certo? Será que venceríamos as dificuldades físicas até o cume? Que roupas levaríamos? Não tínhamos a certeza de que iria esfriar, mas os relatos falavam de sensação térmica abaixo de zero lá no topo. Resumindo, tentamos relaxar, mas fomos dormir pilhados e ansiosos com a subida.

Dia 8 – Subida até a cratera do Vulcão Sairecabur (5400m) / Ascensão ao cume (6050m)

******* ver postagem sobre a descrição da subida ********

Dia 9 – Volta para o Brasil

            Acordamos cedo, acertamos as contas na pousada e pegamos uma condução para o aeroporto em Calama. De lá seguimos até Santiago e depois, em outro avião, voltamos para o Brasil. Chegando em Guarulhos por volta das 10 horas da noite, seguimos para a casa de minha mãe para jantar e depois seguimos viagem para Santos.

A sensação de chegar em Santos foi traumática para nossos organismos, mas no sentido positivo, pois até um dia atrás estávamos caminhando em locais a 6000 metros de altitude, onde a umidade do ar era cerca de 4% e agora estávamos ao nível do mar, com uma umidade de 80% típica dos dias chuvosos do litoral paulista.   

O resumo a seguir mostra as diversas etapas de nossa estratégia de aclimatação para a subida do Vulcão Sairecabur, passando, é claro, pelas mais lindas paisagens que pudemos presenciar:

Dia 1: Saída do Brasil / Chegada no Chile / Pernoite em San Pedro (2438m);

Dia 2: Caminhada Vale da Lua (2550m) / Pernoite em San Pedro (2438m);

Dia 3: Caminhada Salar de Atacama e Lagunas Altiplânicas com máxima altitude de 4200m (por cerca de 2 horas) / Pernoite em San Pedro (2438m);

Dia 4: Caminhada nos Geyser’s Del Tatio (4320m) por cerca de 4 horas nesta altitude / Pernoite em San Pedro (2438m);

Dia 5: Pedal na região da Cordilheira do Sal a 2550m (cerca de 3 horas) / Pernoite em San Pedro (2438m);

Dia 6: Caminhada Salar de Pujsa e Complexo de Tara (cerca de 7 horas entre 4300 – 4500 e 5000m) / Pernoite em San Pedro (2438m);

Dia 7: Dia inteiro em San Pedro (2438m);

Dia 8: Desayuno a 4300m / Caminhada desde base do vulcão a 5400m / Subida ao cume do Vulcão Sairecabur (6050m), nestas altitudes por cerca de 6 horas / Pernoite em San Pedro (2438m);

Dia 9: Volta ao Brasil.

Dados da Viagem:

Ida – 05/11/2010 (vôo 0755 e 0354) pela LAN Chile

Saída de Guarulhos as 09:55hs
Chegada em Santiago – Chile as 13:10hs
Saída de Santiago as 15:55hs
Chegada em Calama as 18:00hs
Transfer para San Pedro de Atacama – chegada as 19:00hs

Volta – 13/11/2010 (vôo 0151 e 0756) pela LAN Chile

Transfer para Calama – chegada as 10:00hs
Saída de Calama as 12:55hs
Chegada em Santiago as 14:55hs
Saída de Santiago as 15:10hs
Chegada em Guarulhos as 22:00hs

Equipamentos Utilizados (Caio):

bota de trekking; papete; 1 cueca para cada dia (mais pode ser menos pois seca muito rápido); meias de trekking (1 de lã mais 4 pares de meias apropriadas ou de algodão – tive que lavar algumas e talvez pode ser mais simples trazer mais meias ...); 1 calça primeira pele de lã; 1 calça segunda pele Solo Expedition; 1 calça terceira pele corta vento/hyvent/goretex; 3 calças que viram bermuda; 2 camisetas primeira pele manga curta; 3 camisetas primeira pele manga longa; 2 camisas fleece 200 segunda pele; 1 fleece 400 terceira pele; anorake hyvent/goretex; 1 par de luva primeira pele; 1 par de luva segunda pele; 1 toca de lã; óculos escuros de montanha; 1 par de bastão de caminhada; 1 mochila de ataque Quéchua 22 litros; 1 mochila ataque Doite 40 litros; 1 mochila cargueira Mamuth 60 litros; 1 mochila de ataque Kailash 40 litros; 2 Camelbak de 2 litros cada; duas garrafas de alumínio Quéchua de 1 litro cada.

Primeiros socorros:

baton de cacau; protetor solar 50 e 30; caladril; paracetamol de 700mg e 1 grama (dor de cabeça e febre); diamox – vidro com 20 comprimidos de 250 mg cada, para mal de montanha (12/12h); plasil (nauseas e enjoos); bandaid; termômetro, esparadrapo; cataflan (pomada e comprimido); soro fisiológico; sorini.

Observação: Os seguintes medicamentos podem ser utilizados para auxiliar contra o mal de altitude, entre eles: aliviun, dalsy, tilenol e AAS (dores de cabeça); plasil ou motiliun (náuseas e vômitos) e soroche pills, que também é para o mal de altitude, mas é vendido somente na Bolívia e no Peru. No Brasil é vendido um outro medicamento para mal de montanha chamado diamox que acabamos utilizando duas vezes ao dia nos 3 primeiros dias que chegamos em San Pedro. Um dia antes da subida ao vulcão tomamos 1 comprimido as 17hs, outro na hora de dormir e outro na manhã da ascensão.

* evite o dramin, pois causa sono e diminui a freqüência respiratória, prejudicando muito se estiver em altitude elevada.

Links úteis:


Gastos realizados (para duas pessoas):

* passagens aéreas (ida/volta): R$ 2466,70
* seguro de viagem: R$ 120,00
* passeio para Vale de La Luna: 16.000 pesos
* passeio Lagunas Altiplânicas de Miscanti e Miñiques: 56.000 pesos
* passeio Geyser’s del Tatio: 40.000 pesos
* entrada para a Laguna Chaxa: 5000 pesos
* entrada para Lagunas Altiplânicas: 5000 pesos
* entrada Vale de La Luna: 4000 pesos
* subida Vulcão Sairecabur + Salar de Tara: 240.000 pesos
* alojamento (duas noites) no Hotel Takha Takha: 74.000 pesos
* alojamento (seis noites) no Hostal Lodge Altitud: 288.000 pesos
* entrada Museu Gustavo Le Paige: 5000 pesos
* gastos gerais (alimentação/água/outros): 265.920 pesos
* transfer para Calama: 22.500 pesos
* aluguel de bike: 6000 pesos
* taxi em San Pedro: 5000 pesos

Total de gastos em reais: R$ 2586,7
Total de gastos em pesos chilenos: 1.032.420 => R$ 3716,70

TOTAL GERAL (2 pessoas): R$ 6303,40

OBS. Créditos especiais para a NATUREZA impressionante que pudemos presenciar. Valeu Paulinha , meu amor, por me acompanhar nos caminhos de uma vida, por estes dias maravilhosos e inesquecíveis em um dos lugares mais notáveis que já passamos. Valeu pela leitura, sugestão e correção do texto ... Valeu pelo companheirismo, amizade e cumplicidade em todos os dias da viagem !!!  

Deserto de Atacama - imagens

 Bandeira do Chile

Aeroporto de Calama

Valle de La Muerte

Planta nativa do Valle de La Muerte

 Duna no Valle de La Muerte

 Subindo a Duna Mayor - Valle de La Luna

Valle de La Luna

Valle de La Luna

Valle de La Luna

Valle de La Luna

Vista para a Duna Mayor

 Salar de Atacama - Laguna de Chaxa

Salar de Atacama - Laguna de Chaxa

Salar de Atacama - Laguna de Chaxa

Flamingos na Laguna de Chaxa

Flamingo

 Lagunas Altiplânicas de Miscanti e Miñiques

Laguna de Miscanti

Laguna de Miscanti

Ambiente altiplânico

Vulcão e Laguna de Miñiques

 Geyser's Del Tatio

Geyser's Del Tatio

Geyser's Del Tatio

Geyser's Del Tatio

Geyser's Del Tatio

Piscina natural - Geyser's Del Tatio

Rio Putana - Caminho para Vilarejo Machuca

Vilarejo Machuca

Vilarejo Machuca

Planta no Vilarejo Machuca

Vilarejo Machuca

MTB pela Coordilheira do Sal

MTB pela Coordilheira do Sal

MTB pela Coordilheira do Sal

Coordilheira do Sal

Coordilheira do Sal

Almoço depois da trilha de MTB

 Vulcão Licancabur e Juriques - vista do quarto

Salar de Pujsa

Flamingos no Salar de Pujsa

Salar de Pujsa

Salar de Pujsa

Salar de Pujsa

Caminho para Monjes De La Pacana

Monjes De La Pacana

Monjes De La Pacana

Andando pelo deserto

Entrada para o Salar de Tara

Catedrais de Tara

Catedrais e Salar de Tara

Salar de Tara ao fundo

Complexo de Tara

Catedrais de Tara ao fundo

Salar de Tara

Catedrais de Tara ao fundo

Museu Arqueológico em San Pedro

 Vista interna do museu

Museu arqueológico

Colar de rocha

Artesanato

Cerâmica